terça-feira, 31 de maio de 2011

Sempre Teremos Paris (Casablanca)


“Sempre Teremos Paris” – Casablanca (1942) – Michael Curtiz

Sem dúvidas, um dos melhores filmes de todos os tempos, se não, o melhor de todos os filmes já produzidos por Hollywood. Feito pela Warner, dirigido pelo Michael Curtiz e com um elenco de peso, o filme conquistou o Oscar de melhor filme, em 1943, e até hoje arranca suspiro dos espectadores, toda vez que é exibido em canais como o TCM ou na própria televisão aberta. Considerado o “queridinho” dos filmes estadunidenses, seu roteiroé baseado na peça teatral de Murray Burnett e Joan Allison.

O filme começa contando a história das pessoas que vivem, ou melhor, esperam em Casablanca (localizada no Marrocos, governado pela França de Vichy) para poderem ir para Lisboa, único caminho “possível” para a América. Um dos pontos mais importantes da cidade é o bar Rick’s, co

mandado pelo Rick Blaine (Humphrey Bogart) que, de primeira, dá a impressão de ser um rico extremamente metido e amargo (o que é verdade, até certo ponto), que não dá a mínima para a política, e tenta manter seu bar como um lugar neutro, freqüentado por alemães, franceses e americanos. Rick mantém uma amizade com o Capitão Renault (Claude Rains), que freqüenta o lugar pois tem prioridade nos jogos de azar.

A trama do filme começa quando um ladrão é preso no bar, esse ladrão entrega a Rick duascartas que liberam as pessoas que assinarem a irem para Lisboa (no filme, chamadas de Letter Of Transit). Essas cartas se tornam necessárias para o Victor Laszlo (Paul Henreid) e Ilsa Lund Laszlo (Ingrid Bergman), ex-amante de Rick. A partir desse momento, podemos entender mais sobre a história de Rick e Isla, com um flashback do romance deles em Paris, embalado pela música “As Time Goes By” interpretada por Sam (Dooley Wilson), e o momento em que Ilsa não vai encontrar Rick na estação para fugir de Paris, que está sendo ocupada pelos Nazistas, deixando apenas um bilhete entregue por Sam.


Victor é intimidado pelo Renault e pelo Strasser (Conrad Vieidt) e precisa pensar em um modo de ir embora de Casablanca para a América. Após esse acontecimento, Ilsa conta para Rick que era casada com Victor (ao qual ela pensou que estava morto, após ter sido enviado para um campo de concentração), na época que eles tiveram um caso em Paris.

Rick se mostra totalmente sentimental quando ajuda um jovem casal a conseguir dinheiro para irem a América, o que nos faz pensar que o filme realmente mostra um apoio ao American Dream e a cultura americana. Victor oferece muito dinheiro a Rick pelas Letters Of Transit, que nega o pedido, e logo pede para Victor perguntar as Ilsa o motivo que ele não vai dar as cartas.

Podemos presenciar um momento histórica em que vemos os hinos da Alemanha e o hino de Paris sendo cantados ao mesmo tempo no bar, prevalecendo o hino de Paris, enquanto os nazistas se calam. Após Victor chegar de uma reunião da resistência, Ilsa vai visitar Ricke pede as cartas, chegando ao seu limite, ameaçando matar Rick cmo uma arma, mas ela acaba desistindo e admite (o que é algo de muita dúvida no filme, não sabemos se é verdade ou mentira, mesmo no final do filme o próprio Rick dizer que o que ela falou não passa de uma mentira para conseguir as cartas) que ama a Rick.

Rick se encontra com Victor, que o pede uma carta apenas para Ilsa, pois ele a quer ver feliz, logo, Rick se encontra com o Capitão Renault e avisa que vai partir de Casablanca com Ilsa no último vôo da noite e para isso Rick arma uma emboscada para que Victor seja preso, quando na verdade ele tem outros planos. Ele força o Capitão Renault a mandar Victor e Ilsa para Lisboa, e só conta tudo isso para Ilsa no aeroporto, no momento que ele diz a frase clássica do filme: “Sempre Teremos Paris”.

Rick acaba atirando no Major Strasser, que tenta impedir o vôo, mas o Capitão Renault o ajuda a “sair impune” por um momento, e os dois acabam caminhando juntos, na última cena do filme, supondo que seria o início de uma bela amizade.

O filme é um dos mais famosos filmes de todos os tempos feitos pela Warner, indicado a 8 Oscars em que venceu 3 (Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro), e além de tudo, foi um divisor de água para as carreiras de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.

Gilda

Gilda (1946)

O filme dirigido por Charles Vidor, é considerado um marco do film noir e para a época em que o filme foi exibido, um dos filmes mais provocantes de todos os tempos. Boa parte desse clima provocante acontece graças a belíssima atriz Rita Hayworth que executou o papel de Gilda com perfeição, criando uma das cenas clássicas do cinema mundial, em que a personagem canta “Put The Blame on Mame” (dublada por Anita Ellis).

O filme se passa na Argentina e conta a história Johnny Farrel (Glenn Ford), narrada pelo mesmo, a partir do momento que é salvo de um assalto pelo Ballin Mundson (George MacReady), e se torna amigo do Ballin que o leva pra ser gerente de seu clube noturno, que na verdade é um Cassino às escondidas. A amizade dos dois é abalada quando Ballin volta de uma viagem casado com Gilda, que descobrimos que ela já teve um caso no passado com Johnny.

Gilda, começa a causar grandes confusões na vida de ambos os homens (outro fato que a marca como a grande Femme Fatale de todos os tempos) quando começa a sair com outros homens apenas pra causar ciúmes no Johnny, que foi encarregado por Ballin à cuidar dela e mante-la segura e fiel ao marido. A trama começa a se complicar quando Ballin começa a sentir ciúmes de Gilda, que o mesmo admite estar completamente apaixonado, fazendo com que as coisas se compliquem entre Gilda e Johnny, que reacendem a paixão que tinham antes.

Ballin decide forjar a sua morte pra se livrar de um assassinato cometido pelo mesmo. Após esse incidente, Gilda e Johnny se casam, e começam novamente uma relação extremamente conturbada, até a volta de Ballin, que decide matar os dois, e acaba sendo morto por um personagem até então insignificante, o Tio Pio, que acaba matando o Ballin. Logo após, Gilda e Johnny vão embora juntos, fazendo com que o final do filme seja extremamente rápido, que realmente poderia se desenrolar mais.

Não podemos esquecer do envolvimento de Ballin com um cartel, que dava ao filme certo ar policial, pertinente nos filmes noir. Outro ponto importante na caracterização do filme noir, é a forte inspiração nos filmes do expressionismo alemão, filmados em preto-e-branco e com um contraste extremo. O film noir também conta com grande influência do realismo poético francês, com seus temas de fatalismo e injustiça.

Podemos fazer uma breve análise psicológica da personagem de Gilda e concluir que se trata de uma mulher extremamente movida pela paixão, desespero e medo. Em uma das frases do filme, ela fala: Eu te odeio tanto que seria capaz de me destruir só para te levar para o fundo comigo”, mostrando um certo medo em relação ao Ballin, e uma paixão profunda pelo Johnny.

Considerado extremamente ousado para os anos 40, desafiando a censura, quando Gilda canta “Put The Blame on Mame” e acaba tirando as suas luvas, criando também uma das cenas mais sexys da história do cinema.

O filme foi divulgado com a frase “Nunca houve uma mulher como Gilda”, e realmente concordo que jamais na história do cinema, vi uma personagem tão forte e certa dos seus desejos, e disposta a fazer tudo pra conseguir seus objetivos, uma verdadeira Femme Fatale.

Das Cabinet des Dr. Caligari

O Gabinete do Dr. Caligari (1920)

O filme, dirigido pelo Robert Weine, é um dos grandes marcos do expressionismo alemão no cinema. Possui uma atmosfera obscura, que remete ao pesadelo e aos distúrbios psicológicos da humanidade, mostrando uma Alemanha gótica e demoníaca, com seus cenários angulosos e personagens marcantes. Também trata de questões políticas em relação ao nazismo e as noções de autoridade.

Wiene nos mostra uma história que se passa na cidade de Holstenwall, de um misterioso doutor chamado de Caligari (interpretado por Werner Krauss) que monta um grande show na cidade em que seu assistente, o sonâmbulo Cesare (interpretado por Conrad Veidt) advinha o futuro das pessoas, e logo em sua primeira adivinhação prevê a morte de um jovem. Logo, uma série de crimes começam a ocorrer na cidade, trazendo as suspeitas pra o Cesare, que é flagrado seqüestrando a Jane (Lil Dagover), que namora com Francis (Friedrich Feher). Francis descobre que o Dr. Caligari é o mandante dos crimes, pois ele usa a hipnose para comandar o Cesare em seus atos de violência.

O filme apresenta dois finais. Um do roteiro original, em que o Dr. Caligari é tido como louco, fazendo uma critica as autoridades alemãs. A versão alterada, mostra um Dr. Caligari lúcido e um Francis louco, que cria uma realidade imaginária sobre os acontecimentos narrados no filme. Com isso, podemos entender mais sobre o período entre-guerras extremamente conturbado em que as pessoas viviam na época, e as influencias disso nos filmes do expressionismo alemão, e na vida das pessoas.

Outra forte característica do filme em relação ao período expressionista alemão, é o uso de painéis pintados em pedaços de madeira e panos pelos pintores expressionistas Walter Reimann e Walter Rohrig e pelo cenógrafo Hermann Warm, que até hoje fazem parte do Museu de Cinema Henri Langlois, em Paris. Hoje em dia, podemos ver grande influência dessa obra do expressionismo alemão, em filmes do Tim Burton, e até em fotografias, como é o caso do Tim Walker, grande fotógrafo de moda que possui fortes inspirações de luz, ângulos e temas do expressionismo alemão.

Devemos perceber uma forte manipulação do Estado na comercialização do filme, que só foi possível depois que o final foi modificado para que o Dr. Caligari (que representa a figura do Partido Nazista) que era um grande manipulador do Cesare (que representa a figura da população civil), fosse uma pessoa normal, diretor de um hospício, e que o verdadeiro louco fosse o Francis (que tentava provar que o Caligari era o mandante de tais crimes) fazendo com que o filme não rompesse com os modelos autoritários do governo, tirando totalmente o objetivo principal do filme original, que era fazer uma crítica direta ao Nazismo.

Toda essa alteração, na minha opinião, não alterou a carga cinematográfica do filme, e sim a carga crítica que o filme queria mostrar. Essas alterações fazem o filme ficar ainda mais intrigante, fazendo com que tudo isso se una ao clima de mistério e horror do filme, não afetando a qualidade cinematográfica. Até hoje podemos perceber grande influência do filme em filmes atuais, como “Edward Scissorhands” dirigido pelo Tim Burton (que já foi citado acima como um grande amante do cinema expressionista alemão, por usar referências do mesmo em seus filmes), que possui grandes semelhanças estéticas com “O Gabinete do Dr. Caligari”, comprovando que o filme do Robert Weine possui grande influência no mundo cinematográfico até os dias atuais.